mas não contei a ninguém, pois é

Há coisas pequenas que passam pela gente como realmente são, coisas pequenas, e a gente esquece de contar para alguém, caso dos mosquitinhos de fruta. Não tenho um melhor amigo para quem contar bobagens, e mesmo que tivesse não contaria bobagens, então volto ao ponto, há coisas que passam, e a gente não conta para ninguém. Não porque elas não são importantes, os mosquitinhos de fruta ocuparam minha preocupação por semanas, deu mosquitinhos de fruta em minha cozinha. Fica complicado usar inseticida em uma cozinha, então resolvi sumir com as frutas e limpar tudo, pedacinho por pedacinho, pensando que sem ter do que se alimentar, o menor farelo que fosse, os desgraçados iriam embora. Qual o quê. Eu limpava num canto eles saiam de lá em turminha e iam para outro, eu limpava no outro e eles voltavam para o um, deviam estar se rolando de rir de mim os desgraçadinhos. Então desisti, cobri tudo com toalhas e panos, e tasquei inseticida na cozinha. Mesmo assim eles não foram, devem ter embarcado numa good trip, todos de barriguinha para cima vendo luzes psicodélicas, os pestes. Mas um dia eles foram, o maioral deles deve ter batido no peito e dito Estamos indo embora porque resolvemos ir embora, é uma decisão nossa, que fique bem claro! Acho esta historinha simpática, mas não contei a ninguém, não ocupo os ouvidos dos outros com  pequenezas, levo meus amigos a sério, vai ver que é por isso que tenho poucos, a gente precisa levar os amigos na piada um pouco, ou melhor, muito na piada, e estou lembrando agora dos amigos esquisitos que tenho, e nenhum deles é para ser levado muito a sério, amigos muito parecidos comigo diga-se de passagem, então uma historinha de mosquitinhos de fruta estava de bom tamanho para os ouvidos de qualquer um deles, mas não contei a ninguém, pois é.