Deixa
meu pé sarar que eu vou, ou passar minha raiva, o que acontecer primeiro, ou
talvez não passar nem a raiva nem o pé porque pra certas coisas a gente precisa
do combustível da adrenalina, e eu vou e não aviso a data, e você terá de conviver
com esse sabe-se-lá-quando, com essa preocupação e esse susto, porque minha
raiva pode passar amanhã ou chegar ao seu ápice daqui a dez anos. Ou vinte
trinta minutos, sei lá, o tempo não é problema pra mim, algo me diz que não
morro cedo e morro com este pé, o tempo agora será problema só seu, que terá de
se adaptar a esse nunca saber que pode com o tempo fazer até você ficar com desejo
de que eu vá mesmo.
até você ficar com desejo de que eu vá mesmo
Nossa
amizade ia muito bem obrigada enquanto o faz de conta funcionava como um
antisséptico jogo de cumprimentos educados, frases perfumadas, aqueles emoticons
bonitinhos no pé dos e-mails e os tais beijos (fáceis, eletrônicos...) de “bom
fds”. Mas bastou eu botar o pé (machucado) no chão e vendo estrelinhas menos de
romantismo que de dor mesmo, e falar chega dessa baboseira, que eu vou produzir
uma mochila e passo aí pra tirar nossa história a limpo, até porque preciso do seu
cheiro pra saber se a gente para ou continua essa conversa, e consultei os
horários de trens e vi que chegava aí enquanto o diabo escovava os dentes, e
vai abrindo a porta que estou chegando, foi só isso, pra você retrair como gato
que vê tina d’água, eriçar os pelos feito o cachorrão que presta segurança na oficina
aqui da rua, e na falta de espada sacar de um guarda chuva preto e ameaçar
trovões e tempestades, e chacoalhar o dicionário virado pra baixo deixando caírem
palavras perfurantes como granizos, com o objetivo único de me assustar pra eu
não ir, como se eu me assustasse com pedrinhas de gelo.